segunda-feira, 30 de junho de 2008

Mulher de Areia.



Vens no meu encalço e descortinas o meu mundo. Invades o meu olhar, fazes-me sentir pequeno. Levantas o Sol para apagares as sombras, lanças-me um olhar que apaga, ainda que momentaneamente, todas as mágoas, todos os rancores.
Danças; eu observo. As tuas curvas, os teus traços, as tuas feições. Tu; recortada na penumbra do meu mundo, onde eu vivo.
Agarras-me pelo braço e puxas-me para ti, sinto o teu cheiro, o teu perfume.
Com gestos e olhares encantas-me, trespassas-me a alma.
O momento que eu receava chega e tu viras-me as costas, diriges-te para a saída deste lugar, agora deixarás de ser somente minha.
Sou assombrado por uma vontade imensa de te segurar a mão e pedir-te para ficares. Mas sei, pela voz da experiência, que neste momento és uma mulher de areia. Se eu te segurar agora; fugir-me-ás pelo meio dos dedos para nunca mais voltares.
Vou dar tempo ao tempo. Porque tudo tem o seu momento e o seu lugar.
Vou deixar-te partir e esperar que voltes. Deixar que sentimentos ganhem forma e se tornem tangíveis. Depois, e só depois, poderei segurar a tua mão e pedir que permaneças.
Passado este meu momento de (in)decisão, tu paras por instantes o teu caminho para o exterior de mim, olhas-me nos olhos e perguntas: “Vens?”.
A minha fortaleza ruiu, apagaram-se as sombras, iluminou-se a penumbra.
Abandonei o meu mundo.
Vejo as coisas ganharem forma, ganharem cores.
É tudo tão alegre, tão esbelto.
Tu; tão sublime.

O meu mundo está agora a meus pés. Depende, agora, (mormente) de mim qual será o lugar onde ficarei.
Mas… onde queres ficar tu?

Enfeitiças-me.

Aos que me leram, obrigado.

PS: Aos anónimos, um muito obrigado. Sinto-me de um tamanho imensurável ao ler tais coisas. De orgulho ao rubro. Coisa esporádica.
Eu conto pelos dedos duma mão as vezes que li o grande Pessoa. Receio encontrar-me nas suas palavras porque também eu “Não sei quantas Almas tenho”. Mas sei, com absoluta certeza, que sou todas elas e que, por si só, nenhuma delas sou eu. Já me foi permitido aprender isso.

2 comentários:

  1. ...assim como enfeitiçam as tuas palavras...a areia é escorregadia mas de uma beleza sem igual!
    beijos

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  2. Devemos sempre deixar partir quem gostamos....porque se forem nossos voltarão um dia!!!

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