quarta-feira, 25 de junho de 2008

Um dia de praia.



Editado: Estas palavras não são minhas. Não são de outra pessoa, mas não são minhas. Entenda-se.


Estou cansado. Um tanto revoltado também. E cansado, ah!, cansado.
Ao vigésimo terceiro dia do sexto mês de cada ano temos, em minha casa, o hábito de jantar todos juntos. São dias raros e, regra geral, passam-se uns bons momentos.
Este ano, para repetir a proeza que fez no natal, o meu “ilustre” irmão decidiu ir jantar a casa de outras pessoas. No natal tinha sido o almoço do vigésimo quinto dia.
Isso revolta-me, mas não é disso que venho falar.
Avançando um dia na data, para 24 do sexto mês, eu estava na praia.
Tudo parecia bem. Um dia de sol alto, de invejar quem trabalhava no resto do país.
Um vento agradável que me afagava a pele nua enquanto repousava na toalha.
Um mar calmo e refrescante.
Um dia de boa disposição.
Tudo óptimo até, apenas porque nos estávamos a vir embora, decidirmos jogar uma bolita, eu e o namorado da minha irmã, enquanto a mesma se calçava.
O problema está quando eu me sentei e dei lugar à minha irmã. A coisa parecia bem, já ambos jogaram futebol federado.
Pelo meio das correrias, das bolas roubadas, dos risos frenéticos e dum quase arfar a minha querida irmã acaba por se dirigir ao chão, causa duma tentativa mal sucedida da terceira personagem de obter a posse da bola, a uma velocidade nada aprazível e numa posição um pouco desagradável. Digo eu, na minha inocência.
Tal acontecimento, aparentemente, não revelava grandes danos (não é bem a palavra que queria, mas estou com pressa).
Dores por tudo quanto é lado, braço arranhado, as palmas das mãos ardiam.
Mas… dores no pescoço ao mexer, o pulso “dói mas não está partido porque senão eu conhecia a dor” e… dores na zona lombar.
Segundo as suas palavras “dói ao respirar e sinto como se estivesse a picar”.
De inicio ela discordava duma ida ao hospital, mas após alguma insistência lá cedeu.
Nas urgências do hospital foi-lhe dada uma fita amarela. Pela a opinião das enfermeiras que faziam a triagem, uma ou outra costela partida não é nada que não possa esperar, salvo se furar os pulmões. Concordo, de certa forma, mas não era eu que mal podia falar e tossir era impensável.
Para meu agrado vi, enquanto esperava sozinho naquele pequeno compartimento destinado a isso mesmo, que os fitas amarelas eram observados num prazo máximo de uma hora. Os laranjas e os vermelhos têm prioridade. Ai se alguma federação de ciclismo descobre esta coisa.
Já chateado e, obviamente, preocupado com o provável estado lastimável em que se encontraria a minha irmã recebo uma sms a dizer que finalmente ia ser observada. Qual uma hora qual quê? Haviam-se passado já algo mais que três horas. E, para trazer um pouco de comédia à questão, foi um médico da micro cirurgia que decidiu, não sei se por pena se por compaixão, observar a minha irmã após esta pedir algo para as dores.
Chegada à minha beira traz-me as notícias que tanto esperava. Não! As costelas não estavam partidas, mas estavam escanadas. Partido, na verdade, estava o pulso. Apesar da mobilidade estar apenas levemente condicionada, doía a mexer para os lados.
O pescoço, aquela dor no pescoço, era um torcicolo.
“Vou para dentro, tou à espera pa por o gesso. Anda ter comigo, o segurança dá-te uma fita roxa.”
Passado um pouco, lá fui eu falar com o segurança que, só apenas após a senhora do guiché me tomar por namorado da dita cuja e pedir ao segurança para me deixar entrar, me deixou lá ir sem evitar uma piada em relação ao numero exagerado de mochilas que transportava. “Não vás com isso lá para dentro, ainda pensam que é bomba!”
Sorri. Mas... e a fita? Nem vê-la. Até tinha gostado da ideia.
Na nova sala de espera estava uma bela colecção de manetas e pernetas. Aquele, na qual ainda não acredito, tinha uma fita verde que, traduzindo para o nosso português, queria dizer “você não tem nada e só veio aqui perder o seu tempo! E o nosso!”.
Parece que tinha uma entorse no dedo mindinho. (Sem comentários!)
O pulso partido parecia já não doer, bendita anestesia.
Era já perto da primeira hora do dia novo e a minha irmã continuava à espera do gesso. Prolongou-se por mais uma hora.
Duas da matina. Saímos, por fim, do Hospital. A experiência diz-me que no S. António tinham sido tão mais eficientes que a esta hora estaria a desfrutar da minha acolhedora caminha.
Nós, vestidos para um dia de verão, tínhamos frio. A noite já ia alta. Para ela, ficar doente estava fora de questão! Antes partir os dois pulsos a tossir com as costelas naquele estado! Então tirei uma toalha de praia e pu-la nos ombros dela. O sorriso dela foi bom de ver. Eu; não estava assim com tanto frio. Afinal; é noite mas ainda é verão.
As moedas pareciam terem sido contadas para pagar a viagem de volta, mas, para mais um azar, uma parte estava em moedas de dois cêntimos, o que impossibilitava o carregamento do andante. Bendita seja aquela alma caridosa a quem pedimos que nos trocasse dinheiro e nos deu vinte cêntimos. Nunca fiquei tão contente por me darem vinte cêntimos. Foi giro.
Entre a espera pelo autocarro, a troca de veículo e a chegada a casa passou-se mais uma hora.
A anestesia começa a deixar de surtir efeito e, lentamente, voltam as dores.
No relógio já tinham dado as três badaladas havia dez minutos.
Estamos em casa.
Por telemóvel a carregar, arrumar coisas, verificar se a maninha está bem, fazer algo que ninguém poderia fazer por mim, etc. E havia-se passado uma hora mais.
Esgotado, adormeci já depois da quarta badalada.

Não dormi muito, tinha que pegar ao serviço pelas nove horas. Mas garanto que dormi bem.
Animou-me ver como ela dormia, descansada. Quando acordar vai ter que enfrentar dores que não invejo. Mas sofrê-las-ia por ela de bom grado. O que não falta na biografia daquela rapariga são lesões.

Estou no trabalho a escrever isto e penso quanto irónico será o facto de, num dia de praia, ter passado mais tempo no hospital do que na praia.
E o facto de ter chegado a casa dum suposto dia dedicado ao mar, ao sol e à boa disposição (que não faltou) às 03.15 da manhã.

Bem, despeço-me.

PS: Tento ser simplista. Se um mistério se cria e adensa, peço perdão. Não gosto de a tratar por Anónimo, gostaria de ter um nome. Mas assim seja e que me continue a ler por muito tempo.

PPS: Hoje decidi mudar um pouco o que costumo deixar aqui e respeitar a vontade da minha tão querida irmã, a Tita. Que as melhoras se avizinhem, amo-te.

3 comentários:

  1. bom ter um irmão assim...as melhoras da tua irmã, acredito que com os teus cuidados elas serão bem rápidas
    beijos

    ResponderEliminar
  2. Talvez te sinta como um mistério por nao te conhecer a cara... Gosto disto... Acompanho diariamente o teu blog, sempre na esperança de encontrar algo de novo porque a tua "fantasticidade" é fantastica...
    P.S. Talvez mais tarde revele o meu nome...

    ResponderEliminar
  3. "(não é bem a palavra que queria, mas estou com pressa)" :D

    ResponderEliminar