segunda-feira, 28 de julho de 2008

Desabafo (2)



Um dia li, por sugestão da minha tão querida irmã, versos do Sr. Fernando Pessoa.
Por medo, recusei-me a ler mais. Ainda que mais tarde tenha lido um outro poema.
Esse medo, nascido duma estranha confissão (que julgava) minha encontrada em palavras de outrem, manteve-me longe para que me fosse permitido continuar a escrever e sentir que fazia algo diferente. Porque o sentimento que mais me invadia era o de nunca fazer nada bem. E, quando o fazia, nunca fazia nada de novo.
Cansado, deixo-me vencer e cito o Sr. Pessoa.
"Não sei quantas almas tenho."
(...)
Porque, no sofrimento que insisti em infligir a mim mesmo. Na solidão em que tanto me quis enclausurar. E que, de tanto querer, consegui.
Porque em ambas essas coisas criou-se a tentação do meu pecado.
Deixei de viver em mim, quebrei o meu primeiro principio. Deixei de viver para mim, para viver no que os outros queriam que eu fosse.
Assim, fui-me criando e criando. Até me perder a conta.
"Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu."
(...)
Perdido em mim, sem saber o que escolher. Sou tudo para todos, diferente para cada um.
E agora estou cansado. Há muito que travo esta luta.
Nesse meu pecado, numa inesquecível ocasião, quebrei outro dos meus princípios.
Deixei-me vergar perante alguém, deixei que esse alguém fosse superior. Só para que outro alguém saísse das ruas da amargura.
E fui quebrando valores, partindo a minha pessoa em pedaços.

Para uns estarei a hiperbolizar, para outros não fará sequer sentido, para um terceiro grupo, talvez preenchido por ninguém, serei o auge da razão.
Na minha penumbra, caminho de olhos vendados.

Nos últimos dias tenho sido invadido por um sentimento fúnebre que há muito desconhecia em tal força.
E surge-me a minha eterna pergunta.
O que é mais cobarde?
(...)

"Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: ["Fui eu?"]
Deus sabe, porque o escreveu."


Finda aqui mais um desabafo, ou uma tentativa.
Talvez fuja ao que costumo escrever, mas estava mesmo a precisar. Por muito pouco que tenha dito...
O que começou por ser um blog para mostrar teorias que não lembrariam ao Papa acabou por se tornar um antro de cartas de várias coisas dissolvidas entre cartas de amor.
Neste momento é a fonte do meu orgulho.

Aos leitores, peço desculpa pela ausência.
Já disse a ilustre Lia Palma "quem quer arranja tempo, quem não quer arranja desculpas."

Eu tenho tempo e um monte de desculpas. Fico-me pela indisponibilidade psicológica.
Escrever exige vontade.
Até breve, espero. Mas quem sabe?


Preciso de ti, minha estranha.

1 comentário:

  1. dá realmente vontade de te ajudar. es realmente qq coisa a escrever. continua!

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